domingo, 11 de abril de 2010

Fotografia: a câmara clara


“Para mim, o barulho do Tempo não é triste: gosto dos sinos, dos relógios – e lembro-me de que originalmente o material fotográfico dependia das técnicas da marcenaria e da mecânica de precisão: as máquinas, no fundo, eram relógios de ver, e talvez em mim alguém muito antigo ainda ouça na máquina fotográfica o ruído vivo da madeira.” Roland Barthes

A fotografia é um universo imenso. Sob que abordagem falar da fotografia? Podemos falar da história da fotografia, da fotografia como suporte, como técnica, como materiais (química, física) utilizados ao longo de sua trajetória. Podemos abordar a evolução da fotografia: a fotografia analógica e digital. Podemos pensar na questão do armazenamento e da preservação de acervos fotográficos, na tarefa de fazer a representação temática e descritiva de fotografias. Na fotografia como informação. É arte? Não é arte? Há questões éticas, o fotojornalismo, enfim, as possibilidades de abordagem são muitas. Para Roland Barthes (1984), “(...) a Fotografia se esquiva.”. Segundo o autor, é difícil saber qual o traço essencial que distingue a Fotografia da comunidade de imagens, ele “não estava certo de que a Fotografia existisse, de que ela dispusesse de um ‘gênio’ próprio.” (BARTHES, p. 12, 1984). Vamos abordar, então, parte da visão deste autor, escritor, sociólogo, crítico literário, semiólogo e filósofo francês, sobre a fotografia.

Vídeo com pequena biografia de Roland Barthes (1915-1980):

 
Para o autor, a fotografia é inclassificável, pois todas as divisões às quais é submetida são exteriores a ela: fotografias profissionais ou amadoras; classificações retóricas (paisagens, objetos, retratos, nus); ou classificações estéticas (realismo, pictorialismo). “A Fotografia pertence a uma classe de objetos folhados cujas duas folhas não podem ser separadas sem destruí-los: a vidraça e a paisagem (...)” (BARTHES, p. 15, 1984). A fotografia sempre traz consigo o seu referente, isto é, o objeto fotografado. A foto é sempre invisível, pois não é ela que vemos e sim o objeto fotografado.

Na tentativa de apreender a essência da fotografia, Barthes decidiu tomar como guia de sua análise a atração que ele mesmo sentia por determinadas fotos, a “(...) agitação interior, uma festa, um trabalho também, a pressão do indizível que quer se dizer.” (BARTHES, p. 35, 1984). Assim, nomeou dois elementos que percebia ao olhar fotografias diversas:

O primeiro, visivelmente, é uma vastidão, ele tem a extensão de um campo, que percebo com bastante familiaridade em função de meu saber, de minha cultura; esse campo pode ser mais ou menos estilizado, mais ou menos bem sucedido, segundo a arte ou a oportunidade do fotógrafo, mas remete sempre a uma informação clássica: a insurreição, a Nicarágua, e todos os signos de uma e de outra: combatentes pobres, em trajes civis, ruas em ruína, mortos, dores, o sol e os pesados olhos índios. Desse campo são feitas milhares de fotos, e por essas fotos posso, certamente, ter uma espécie de interesse geral, às vezes emocionado, mas cuja emoção passa pelo revezamento judicioso de uma cultura moral e política. O que experimento em relação a essas fotos tem a ver com um afeto médio, quase como um amestramento.” (BARTHES, p. 45, 1984).

Para exprimir essa espécie de interesse humano, Barthes não encontrou nenhuma palavra em francês, mas sim em latim: studium. Para o segundo elemento, encontrou outra palavra em latim: punctum. Esse segundo elemento, diferentemente do primeiro, parte da cena da fotografia, é um pequeno detalhe que toca o espectador de forma pungente e que faz com que ele goste realmente de determinada foto. O studium seria da ordem do “to like” e o punctum da ordem do “to love”, segundo o autor. (BARTHES, 1984).

Este segundo vídeo explica os dois conceitos:



E um terceiro vídeo Studium and Punctum mostra algumas fotografias e a descrição do que seria o punctum de cada uma delas para o autor do vídeo, claro. Pois se o punctum é algo que toca o espectador, não necessariamente será o mesmo para diferentes espectadores e somente haverá esse punctum em determinadas fotografias, sendo as demais da ordem do studium.


Referências:

BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre a fotografia. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.


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