sábado, 19 de junho de 2010

Informação em mídias digitais: um barco que veleje nesse infomar – a ponte



Como é que faz pra lavar a roupa?
 Vai na fonte, vai na fonte
Como é que faz pra raiar o dia?
No horizonte, no horizonte
Este lugar é uma maravilha
Mas como é que faz pra sair da ilha?
Pela ponte, pela ponte
A ponte não é de concreto, não é de ferro
Não é de cimento
A ponte é até onde vai o meu pensamento
A ponte não é para ir nem pra voltar
A ponte é somente atravessar
Caminhar sobre as águas desse momento
[...] Nagô, nagô, na Golden Gate
 (Lenine & Queiroga)

Fonte: acervo pessoal - Ponta das Canas - Florianópolis/SC

Chegamos ao final do semestre: este é o último post para a Disciplina de Informação em Mídias Digitais. A proposta é, a partir de tudo que foi tratado até aqui, buscar responder à questão: é possível convergir todos esses elementos informacionais, distribuídos nas diferentes mídias estudadas, para sistematizar a busca e a recuperação da informação de maneira mais ágil e mais eficiente? A resposta imediata é muito simples: sim. Difícil é a resposta à questão seguinte: como? Se tomarmos as metáforas da canção da epígrafe, “como é que faz pra lavar a roupa?” (resolver os problemas), “como é que faz pra raiar o dia?” (sair da escuridão) e “como é que faz pra sair da ilha?” (fazer conexões), as respostas “vai na fonte”, “no horizonte” e “pela ponte” se traduzem numa única: informação-comunicação. Ou seja, para resolver os problemas informacionais, é preciso “sair da ilha”, “atravessar a ponte”. A biblioteca, hoje, não pode mais estar voltada somente para seu próprio acervo, é preciso fazer conexões, pois “nenhum aquário é maior do que o mar” (LENINE; QUEIROGA, 1999), considerando-se o mar de informações que são produzidas ininterruptamente. Não há mais uma única via e sim uma rede neural de possibilidades informacionais. Para facilitar essas conexões, contribuem as novas tecnologias e as mídias digitais.

Uma possível resposta à difícil questão proposta são as redes sociais, já abordadas no post anterior. Pierre Lévy (2001), em seu livro Cibercultura, diz que temos a tentação de, como Noé com sua arca, querer salvar as informações essenciais do dilúvio informacional que nos submerge. Para ele, não é mais possível abraçar o todo, e é imprescindível aprender a conviver com isso. Assim, as redes sociais funcionam como um filtro. Cada grupo terá que fazer sua própria filtragem (uma organização, uma seleção, uma hierarquização) para dar sentido às informações. A responsabilidade de dizer “é isso que nos interessa”, de dar sentido a informações brutas, cabe a nós, não mais à mídia, à televisão, à imprensa, à universidade, ao partido, ao Estado, ao Bon Dieu, segundo o autor. “As comunidades virtuais são grupos de discussão na Internet, nos quais as pessoas trocam perguntas às quais tentam responder. Essa conversação vai criando progressivamente uma memória coletiva, oriunda da interação das pessoas.” (LÉVY, 2001). São as mídias digitais que viabilizam essas redes sociais ou comunidades virtuais com interesses em comum.

Como vimos nos primeiros posts, hoje somos todos consumidores-produtores de informação. Imagine de que tamanho seria a nossa arca se tivéssemos que selecionar um exemplar de cada espécie. Se não é mais possível fazer um resumo de todo o conhecimento da humanidade, tamanho o volume e velocidade com que é renovado, e se também não é possível ficarmos ilhados, são necessários faróis (talvez os profissionais da informação), que sinalizem a terra firme a fim de que as ilhas construam um arquipélago virtual (redes sociais), que neste caso não precisa ser formado por ilhas próximas geograficamente (mas com interesses em comum), pois não há mais fronteiras para a informação: “O astrônomo lunático / Brincando com o sol / Descobre que a distância / Não é mais que um cálculo / É mais, é mais, é mais além [...]”. (LENINE et al., 1992). Vamos então deixar a ilha (seja pela ponte ou pelo mar), estreitar os novos laços sociais, nos apropriarmos da memória coletiva.

E vamos aprender com Gil (1997):

Com quantos gigabytes [terabytes?]
Se faz uma jangada
Um barco que veleje

Que veleje nesse infomar
Que aproveite a vazante da infomaré
Que leve um oriki do meu velho orixá [...]

Que leve meu e-mail até Calcutá
Depois de um hot-link
Num site de Helsinque
Para abastecer

Eu quero entrar na rede
Promover um debate
Juntar via Internet
Um grupo de tietes de Connecticut

De Connecticut acessar [...]
Eu quero entrar na rede pra contactar
Os lares do Nepal, os bares do Gabão

Que o chefe da polícia carioca avisa pelo [telefone] celular [Twitter, talvez, ou já inventaram uma nova mídia?]
Que lá na praça Onze tem um vídeo-pôquer para se jogar




REFERÊNCIAS

LENINE; QUEIROGA, Lula. A ponte. 1997. Disponível em: http://www.lenine.com.br/faixa/a-ponte-1. Acesso em: 18 jun. 2010.

______. A rede. 1999. Disponível em: http://www.lenine.com.br/faixa/a-rede-1. Acesso em: 18 jun. 2010.

LENINE et al. Mais além. 1992. Disponível em: http://www.lenine.com.br/faixa/mais-alem. Acesso em: 18 jun. 2010.

LÉVY, Pierre. Pierre Lévy: depoimento [jan. 2001]. Entrevistador: Marcelo Taz. São Paulo: [s.n.], 2001. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=Wk76VURNdgw&NR=1. Acesso em: 18 jun. 2010.

GIL, Gilberto. Pela Internet. 1997. Disponível em: http://www.gilbertogil.com.br/sec_disco_interno.php?id=34. Acesso em: 18 jun. 2010.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Redes Sociais, Comunidades Virtuais e Mídias Digitais

Redes: uma nova forma de atuar

As redes sociais virtuais estão hoje muito em voga, todo mundo tem o seu perfil em alguma delas: Orkut, Facebook, MySpace, Twitter. Há também as redes sociais em torno de profissões ou comunidades científicas, reunindo profissionais e pesquisadores por área de interesse. Ao usarmos o termo “redes sociais”, por estar tão associado às redes sociais virtuais já mencionadas, temos a idéia de que se trata de um conceito novo. Ao contrário, não podemos sequer dizer que as redes sociais fazem parte da história da humanidade, pois elas são a própria história da humanidade, se entendermos rede social como a teia de relações estabelecidas na execução de nossas atividades cotidianas.

Alguns autores consideram a sociedade pós-industrial capitalista, fragmentária, individualista e egoísta. Para Hume (1983 apud COSTA, 2005), a generosidade humana é limitada por natureza, tratando-se menos de egoísmo do que de parcialidade, pois todo ser humano está limitado ao seu clã. Para Wellman & Berkowitz (1988):


[...] várias análises recentes sofrem de uma “síndrome pastoral”, que compara nostalgicamente as comunidades contemporâneas com os supostos velhos bons tempos. É assim que sociólogos urbanos dizem que o tamanho, a densidade e heterogeneidade das cidades contemporâneas têm alimentado laços superficiais, transitórios, especializados e desconectados nas vizinhanças e ruas. Com isso, os laços de família extensos têm se esvaziado e deixado os indivíduos sozinhos com seus próprios recursos, além de poucos amigos, transitórios e incertos. (WELLMAN; BERKOWITZ apud COSTA, 2005).

Segundo Costa (2005), as comunidades não estariam completamente condenadas na sociedade atual nem existiriam em abundância nas sociedades pré-industriais. Para o autor, o que ocorre é uma mudança de enfoque, das relações de vizinhanças vivendo em pequenas cidades para as relações sociais e sistemas informais de trocas de recursos que vivemos hoje, o que remete a uma transmutação do conceito de “comunidade” em “redes sociais”.

Essas “trocas de recursos” mencionadas pelo autor nada mais é do que a troca de informações. As redes sociais são mais uma característica da sociedade da informação, são ao mesmo tempo o reflexo da “explosão da informação” de que tanto ouvimos falar, e são também uma das causas dela. A nova configuração de comunidades, ou redes sociais é complexa, não tem mais limites geográficos, de vizinhança ou parentesco. Isso possibilita uma interação e cooperação muito maior entre os “nós” dessas redes sociais, ou seja, entre os “atores sociais”, sejam eles virtuais ou não. Assim:


A atual emergência dos novos valores e novos pensamentos é possível graças ao desenvolvimento das tecnologias de comunicação e da informática, às inovações e novas descobertas do pensamento cientifico, à globalização, à evolução da cidadania, aos resultados desastrosos da forma atual (hegemônica) da organização humana, à evolução do conhecimento científico sobre a vida; às novas formas de gerenciamento e atuação empresarial, ao papel determinante da informação e do conhecimento na vida social. (AMARAL, [s.d.]).

E os bibliotecários? Devem atuar como facilitadores/mediadores/promotores das conexões dessas redes, são eles próprios “nós” ou “atores sociais” das novas comunidades virtuais. E as bibliotecas? Devem abrir suas “portas” e seus “portais” deixando que seus espaços físicos e virtuais sirvam de palco para as novas configurações sociais.


REFERÊNCIAS




COSTA, Rogério da. Por um novo conceito de comunidade: redes sociais, comunidades pessoais, inteligência coletiva. Interface (Botucatu) [online]. 2005, v.9, n.17, pp. 235-248. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1414-32832005000200003&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em: 14 jun. 2010.