segunda-feira, 3 de maio de 2010

Jornais eletrônicos e os profissionais da informação

Características e implicações do jornalismo na Web
A história dos jornais eletrônicos é bastante recente, inicia-se entre 1995 e 1996. Tim Berners Lee cria a Web em 1989 e o primeiro navegador, o Mosaic, é de 1993: a nova interface gráfica é que permite as primeiras publicações dos jornais digitais. No Brasil, os primeiros jornais a disponibilizarem conteúdos on line são o Jornal do Brasil (hoje chamado JBONLINE), em maio de 1995, e O Estado de São Paulo, em dezembro de 1995 (então chamado de NetEstado, na versão digital e hoje ESTADÃO).

Costuma-se dividir a curta trajetória dos jornais eletrônicos em três estágios. O primeiro estágio é chamado de “Transpositivo”: caracteriza-se pela simples transposição do conteúdo dos jornais impressos para o meio digital; inicialmente eram transferidas partes das publicações tradicionais, sem adaptações, ou seja, sem aproveitar os recursos oferecidos pela linguagem não-linear do hipertexto; geralmente eram atualizados a cada 24 horas, com o fechamento da edição impressa e publicadas apenas algumas notícias selecionada do conteúdo impresso. O segundo estágio é chamado de “Metáfora”: ainda é seguido o modelo do jornal impresso, mas já começam a ser explorados os recursos do hipertexto e as possibilidades multimídias, sendo oferecidos alguns serviços diferenciados do jornal em papel, porém, ainda com a idéia de que o jornalismo digital seria apenas um complemento ou uma extensão do jornalismo tradicional. O terceiro estágio é chamado de “Webjornalismo”: o jornal já é um produto destinado exclusivamente para a Internet, explorando a nova linguagem e as possibilidades da Web. (MIELNICZUK, 2001).

O estágio atual possui algumas especificidades que caracterizam o jornalismo eletrônico. São elas: interatividade – o leitor interage com outros leitores, com o autor e com o próprio jornal; customização/personalização de conteúdo – o leitor escolhe o que quer ler, na ordem e no tempo que preferir; hipertextualidade/multimidialidade convergência – o hipertexto é uma linguagem não-linear, onde o leitor é que escolhe o caminho que irá percorrer na notícia, que não mais é composta somente por texto e fotografia (como no jornal impresso), mas também por vídeos, sons e conteúdos de outros sites relacionados ao assunto, que podem estar linkados à notícia; memória – o conteúdo do jornal eletrônico pode ser acessado por qualquer leitor a qualquer tempo, o volume de informação disponível é muito maior do que na mídia impressa, pois o armazenamento é mais viável técnica e economicamente do que o jornal impresso, o leitor terá acesso a todas as edições, recuperando um número muito maior de informação. (MIELNICZUK, 2001).

Este novo contexto do jornalismo on-line exige a adaptação dos diferentes profissionais envolvidos com a informação. Os jornalistas acostumados à mídia impressa devem estar atentos às mudanças a fim de sobreviverem no mercado, que exigirá nova postura, novos conhecimentos. O jornalismo on-line abre portas para novos jornalistas, pois o mercado exige um bom desempenho acadêmico, mas não necessariamente experiência profissional, pois os jornalistas iniciantes não têm noções pré-concebidas do jornalismo, o que facilita seu desempenho com as novas linguagens. (QUADROS, 2002). No início da segunda década do jornalismo digital, já se percebeu uma diminuição da circulação dos jornais impressos. Essa é uma tendência, visto que as novas gerações estão mais habituadas ao uso das mídias digitais. Os jornais impressos terão que se adaptar à nova realidade, não somente em relação às formas e linguagens da Web, mas também ao fato de que os anunciantes, que financiam a mídia tradicional, tendem a migrar para as novas mídias, onde o contato com o consumidor se dá de forma mais direta e específica, diminuindo os custos com a publicidade. (ALVES, 2006).

Os profissionais das ciências da informação, também devem estar preparados para trabalhar nesse novo contexto: a informação agora está muito mais acessível e em muito maior quantidade. Uma única unidade de informação poderá ter acesso a todos os jornais do país e do mundo disponíveis on-line, enquanto até bem pouco tempo tinha que esperar algumas poucas edições impressas, que já chegavam com atraso em relação às notícias. Tanto para os bibliotecários, quanto para os arquivistas e museólogos, o jornal eletrônico traz grandes mudanças: o acesso à informação é facilitado – a quantidade de informação disponível é muito maior, assim como a qualidade da informação também, pois tendo acesso à variadas fontes, pode-se ter uma visão mais ampla e não tendenciosa, diferentemente de quando se tem acesso a poucas fontes impressas; o armazenamento da informação é facilitado – não são mais necessários grandes espaços destinados ao armazenamento de jornais impressos, pois todo o conteúdo esta disponível on-line; a recuperação da informação é facilitada – o conteúdo dos jornais eletrônicos pode ser mais facilmente recuperado do que o conteúdo dos jornais impressos; a preservação da informação é facilitada – o manuseio constante dos jornais impressos leva a deterioração do papel, assim como condições ambientais, umidade e temperatura, além dos riscos químicos e biológicos como o amarelamento e ressecamento do papel e o aparecimento de fungos e insetos que causam a deterioração do jornal, o que leva a perda da informação nele contida, com os jornais eletrônicos isso não acontece; a disseminação da informação também é facilitada – a informação disponível on-line pode ser consumida por usuários de qualquer parte do mundo.

Os profissionais da informação também devem estar habilitados a tratar a informação digital que tende cada vez mais a aumentar. Para isso, devem estar qualificados tecnicamente e também devem assumir uma nova postura diante deste novo contexto que é a “sociedade de informação”. O fim do trabalho é o mesmo: disponibilizar a informação certa e no tempo certo ao usuário; mas os meios e as tecnologias mudaram: o profissional da informação não está mais limitado ao acervo físico disponível na unidade de informação, pois até mesmo a própria unidade de informação pode ser virtual.


Referências

ALVES, R. C. Jornalismo digital: dez anos de web… e a revolução continua. Comunicação e Sociedade, São Paulo, v. 9-10, p. 93-102, 2006. Disponível em: http://revcom2.portcom.intercom.org.br/index.php/cs_um/article/viewFile/4751/4465. Acesso em: 1º maio 2010.

MIELNICZUK, L. Características e implicações do jornalismo na Web. In: CONGRESSO DA SOPCOM, 2., 2001, Lisboa. Disponível em: http://www.facom.ufba.br/jol/pdf/2001_mielniczuk_caracteristicasimplicacoes.pdf. Acesso em: 1º maio 2010.

QUADROS, C. I. de. Uma breve visão histórica do jornalismo on-line. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO, 25., 2002, Salvador. Anais... Salvador: INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, 2002.

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